03 junho 2011

FREUD E FOCAULT

Pretendo apenas ressaltar um questionamento de importância central para o reto entendimento do que é o homem segundo dois pensadores extremamente influentes da contemporaneidade: Freud e Foucault. Não entrarei agora em particularidades e detalhes. Apenas traçarei linhas gerais que me permitirão um aprofundamento posterior. O assunto que irei abordar é também de enorme importância para o pensamento de ambos. Trata-se da efetiva noção de liberdade individual.
Para Freud, estamos indefinidamente presos numa intricada trama de neuroses (somatizações de conflitos emocionais) decorrentes de nossos relacionamentos familiares mais próximos. Segundo o pai da psicanálise, estas neuroses aprofundam-se tanto que se tornam parte constitutiva do nosso ser, a tal ponto que não se pode mais separá-la de um eu pretensamente livre. Freud acreditava que não se podia dissociar a neurose do eu sem destruí-lo por completo. Atentem para o profundo pessimismo desta idéia, tão revelador de uma profunda descrença no homem.
Já Foucault era mais instruído em filosofia. Esse conhecimento poupou-o de algumas asneiras freudianas. Foucault sabia que o homem se faz a si mesmo como quiser, ou seja, não é determinado por nenhuma experiência anterior, pode-se construir como lhe parecer mais adequado. Através de profundas análises históricas, o francês demonstrou a evolução das idéias, o que revela o seu caráter de criação. Portanto, Foucault não caia na ingenuidade de achar que o homem é natural, ou seja, sabia que o homem é uma construção de si.
Pelo que disse até agora, parece que Freud é um determinista e Foucault é um radical mentalista. Isso não estaria propriamente correto, pois, ainda que estas breves frases revelem em síntese o que Foucault pensava, Freud está mal representado nelas, pois ele acreditava que o homem se pode transformar a si mesmo. Freud apenas não compartilhava da idéia de que há liberdade total no processo, por isso acreditava que o homem não consegue se libertar totalmente das neuroses. Uma pena, porque os filósofos clássicos já tinham demonstrado a liberdade total há milênios.
Por sua vez, Foucault também não está plenamente correto, pois a infância marca impressões profundas na mente humana. Pode-se demonstrá-lo através dos padrões de comportamento adquiridos, comprovados pelas neurociências. Caso uma pessoa seja educada de maneira muito disfuncional em sua infância, a reparação dos danos levará tempo e exigirá muita paciência e determinação. Porém, ao contrário do que Freud ensina, ainda que nunca nos tornemos perfeitos, é possível uma superação efetiva das neuroses, com evidente melhora na qualidade de vida.
Isso só é possível porque as interconexões entre nossos neurônios podem ser remodeladas conforme um treinamento que podemos nos impor. Aí se vê como a liberdade é total, pois podemos modificar absolutamente tudo em nossa personalidade. Não importa que tenhamos sido, por exemplo, educados dentro do protestantismo mais radical. Podemos nos fazer o mais corrosivo tipo de ateu, como Marx ou Nietzsche, ambos filhos de pastores. Tampouco importa a lascívia que tenhamos vivido. Podemos nos converter como Santo Agostinho ou São Francisco.
Portanto, percebam que estou bem mais próxima de Foucault do que de Freud, pois, como afirmado, não apenas a filosofia clássica afirma a completa construção das crenças humanas, mas também a medicina têm demonstrado que o homem pode se fazer como quiser. O interessante é que, mais uma vez, a melhor solução do problema parece estar no meio-termo. Só não se pode corroborar com o erro grosseiro de que o homem é determinado pelas suas experiências anteriores, pois nem Freud concordava com isso. Essa idéia é defendida apenas por pessoas ignorantes em filosofia e psicologia.
Tenho a sensação de que este texto simples e despretensioso me ajudará a organizar certos raciocínios. Pretendo desenvolver maiores detalhes aos poucos, entrando nas várias particularidades. Provavelmente a primeira delas será uma tentativa de compreensão do mecanismo com que elegemos nossas prioridades, pois o modo como escolhemos é, de fato, a melhor maneira para analisar o que somos, visto que muitos agem de maneira vergonhosamente oposta ao que dizem. O desvendamento desta imoralidade absurda é importantíssimo para se compreender o homem.

Fiquei admirada com este texto, o escritor é estudante de Medicina….APROVADO

Adaptado:Henrique Rossi,

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