19 abril 2011

O Esquizofrênico é um sujeito Perigoso?

O recente massacre de Realengo despertou o debate acerca da possibilidade de o comportamento de tais autores ser mais bem explicado pelos chamados transtornos mentais. Dentre os vários especialistas que buscaram explicações para o comportamento de Wellington, o atirador da escola do Rio de Janeiro, alguns chegaram a apontar a esquizofrenia como uma possível justificativa para sua ação. 

A esquizofrenia demonstra-se como um desafio para todos os estudiosos em psicopatologia. Embora já descrita e estudada há mais de cem anos pelas mais variadas abordagens e áreas do conhecimento, ainda continua como fonte de especulações e poucos achados significativos, seja em relação aos seus determinantes e ou ao seu tratamento. Assim, uma questão pode surgir a partir de tais discussões: o esquizofrênico representa algum risco para a sociedade ou para si? Para isso, entendamos primeiramente o que se entende por esquizofrenia. 

Simplesmente por ser equizofrênico,
o sujeito tem que ser preso?

A explicação trazida pelo DSM-IV-TR, o Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (2000/2002) da Associação Americana de Psiquiatria (APA), afirma que a esquizofrenia se caracteriza por dois ou mais dos seguintes sintomas, se presentes por um período de um mês: delírios, alucinações, discurso desorganizado, comportamento desorganizado ou catatônico e sintomas negativos, isto é, embotamento afetivo, alogia (redução ou ausência do falar) ou avolição (incapacidade de iniciar e persistir em atividades dirigidas a um objetivo; falta de vontade). 

A abordagem estruturalista, tão comum na psicologia, não nos fornece explicações sobre as variáveis controladoras da esquizofrenia, apenas descrevem a topografia do comportamento. A literatura tradicional considera a existência de possíveis fatores orgânicos que afetariam a mente, produzindo alterações comportamentais, sendo interpretadas como sintomas de um processo mental subjacente, explicando assim a esquizofrenia. 

Ao contrário, Análise do Comportamento, de abordagem funcionalista -- em que se busca compreender os estímulos antecedentes e consequentes do comportamento -, volta-se para as relações estabelecidas entre a pessoa e seu ambiente. Por esse prisma, dizer que o indivíduo representaria um risco para a sociedade ou para si mesmo por ser diagnosticado como esquizofrênico seria simplificar em demasia um fenômeno já complexo por natureza: o comportamento humano. O que deve ser tomado como foco de análise são as relações desse indivíduo com seu ambiente – relações tanto imediatas como pregressas, ou seja, de sua história de vida. 

Vale lembrar tambem que os meios de comunicação de maneira geral, se utlizam de tais informações e acontecimentos para transformar casos especificos em ibope, esquecendo-se de manter a ética e a imparcialidade nas informações.

O comportamento, seja ele agressivo, violento ou até mesmo suicida, está inserido em uma complexa rede de contingências, assim como qualquer outro comportamento. Tais categorias podem acontecer em qualquer contexto psicopatológico. Além disso, atribuir a causa de um dado comportamento a um transtorno seria endossar a circularidade dessas explicações: “é agressivo pois é esquizofrênico; é esquizofrênico pois é agressivo”, por exemplo. 

Autora: Lorena Fleury de Moura

Adaptação: Sandra Silva.

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